Alegrai-vos, pelos motivos corretos

“Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus.” (Lucas 10.20)

Os discípulos voltaram empolgados com os dias de pregação. Eles haviam recebido poder de Cristo para pregar, curar, expulsar demônios e rejeitar aqueles que os rejeitassem. Sabiamente nosso Senhor percebe o que está no coração dos discípulos e os exorta a não perderem o foco. Jesus chamou-lhes a atenção para que não se deixassem levar pelas “vantagens” do poder. Mesmo que a alegria deles fosse justa, pois fizeram grandes obras e viram o poder de Cristo através deles, não era isso que deveria motivar ou encher-lhes os corações. Com toda a simplicidade de sua pregação, o Senhor então lhes coloca novamente no rumo, mostrando pelo que eles deveriam alegrar-se: pela salvação.

Somos tão fracos de mente e espírito, que nos deslumbramos facilmente. Qualquer pirotecnia nos desvia do foco e nos deixa boquiabertos. Demonstrações de poder e milagres são lugar comum em nossos desvios e, por vezes, confundidos com o objetivo de Deus para nós. Não é difícil vermos anúncios do tipo: “Venha buscar seu milagre!” Mas, não seria isso nos alegrarmos pelo mesmo motivo errôneo que levou Jesus a admoestar seus discípulos para que focassem a salvação? Certamente que sim.
Não conhecer as Escrituras nos leva a cometer erros como esse, tão triviais. Não é incrível que isso já tenha acontecido, sido descrito pela Bíblia e a Igreja ainda se vê em meio a esses deslumbrados com demonstrações de poder que em nada se comparam com o que foi conquistado na cruz? Aliás, sinto que as pessoas já não sabem mais o que foi conquistado na cruz.
Alguns pensam que foi poder; o mesmo poder anunciado pelos milagreiros. Poder para fazer e acontecer. Para curar, libertar e impressionar – de preferência. Ainda que todas essas coisas sejam possíveis pela vontade do Pai, elas nunca foram o foco. Aliás, focá-las é não entender o papel dessas demonstrações, justamente o que aconteceu com os discípulos.

Eles viram grandes coisas, até o inimigo fugindo deles, e tiveram alegria em seus corações. O que eles não entenderam é que todo aquele poder da Palavra e sobre o inimigo apontavam para o poder de Cristo para vencer o pecado, a morte, Satanás e salvar o pecador. Eles olharam tanto para o milagre que esqueceram que ele servia para avultar a fonte do poder. Ainda que isso tenha sido motivo suficiente para alegrar-lhes, em nada se comparava com seu significado.

Com seus olhos desviados para os milagres, os discípulos não viram que isso evidenciava que seu Messias era real; que sua palavra era verdade; que sua salvação era para valer. Eles tinham o nome escrito no livro da vida e não conseguiam se alegrar com a melhor notícia de todas, pois estavam ocupados demais “brincando” de quem é que manda. Isso é como a criança que se encanta com o embrulho brilhante de seu presente de última geração, que pode mudar sua noção de diversão.

Quantos de nós não somos assim: alegres de mais com sinais e pouco atentos para o fato de que a verdade sinalizada já está disponível. A alegria que nos está proposta tem sido suplantada por aquilo que nos levaria a entender tal alegria, ou apenas ter um vislumbre da mesma. Temos nosso nome no livro da vida e nos concentramos nas realizações deste mundo. O fato é que não estamos entendendo o que está proposto para nós. Não sabemos o quão grande é, ou o quão significativo é ter nossos nomes no livro da vida.

Por vezes, estamos tão envoltos nessa luta por poder, que não vemos que esse não é o ponto. O pior é que alguns começam a pensar que o poder está nele, ao ponto de vê-lo escorrendo em seu suor – já que o apóstolo lá atrás teve esse poder, então, ele também pode ter; por que não? Acho que o ser humano se vê tão judiado pelo pecado e seus efeitos que, quando tem a chance de se ver por cima, ele a agarra com unhas e dentes, contudo, sem perceber que esse é mais um efeito do pecado, que nos desvia o olhar do que realmente importa.

Sempre me lembro de Pedro e suas palavras de consolo aos perseguidos na grande diáspora no início do cristianismo. Apesar de todas as lutas e dissabores, Pedro faz a igreja olhar para a obra de salvação de Cristo e para a garantia do poder de Deus a guardando para nós (1Pe 1.3-9). O apóstolo mostrou que isso é motivo suficiente para exultar de alegria. Veja a discrepância de nossas emoções: enquanto estamos buscando avidamente por poder, a Palavra nos faz olhar para o poder de Deus para a salvação do homem, o Evangelho. Há uma grande diferença na alegria que temos para a alegria que o Pai nos propõe.

Tristemente, não nos apercebemos que essa mudança de foco rouba a grande glória de nosso Redentor. Somente focando na salvação é que iremos glorificar o Filho. Se concentrarmos em seu poder e sua ação no aqui e agora, sem entender que isso aponta para O GRANDE DIA, não iremos vislumbrar o dia em que toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, e ficaremos concentrados nos dias em que isso ou aquilo aconteceu em nossas vidas. Essa alegria é passageira, assim como esse mundo; só tendo em mente que nossos nomes estão no livro da vida, é que poderemos ter um antegozo desse grande dia e uma alegria verdadeira e eterna.

Pelo que você tem se alegrado no Reino de Deus? Tem olhado para o poder de Deus como se fosse para você e esquecido do propósito do Senhor derramar seu poder sobre a Igreja? Tem gostado tanto dos vislumbres que mostram que o Reino de Deus está aqui e tem deixado de lado o dia em que nem o incrédulo poderá negar que está nesse Reino? Não perca o foco! Ver o poder de Deus agindo em nossas vidas é muito bom, mas nada se compara com o poder regenerador, santificador e salvador de nosso Pai: Cristo! Se você não tiver isso como a grande alegria de sua vida, temo que suas alegrias são passageiras e sempre necessitam de um reforço na próxima reunião de “desencapetamento total”, “dos milagres”, “dos 308,03 pastores”; enfim, em reuniões onde se acredita que o poder de Deus é derramado. Aliás, se você acha que exorcismo, cura e milagres são as grandes demonstrações do poder de Deus, então, você precisa saber melhor o que significava seu estado de ainda não regenerado e convertido; quais os efeitos do pecado para sua existência e relação com Deus, bem como o que está proposto para aquele que não se garante à sombra da cruz de Cristo.

Alegre-se! Você está à salvo da ira de Deus e guardado em seu seio de amor. O resto é fichinha.

Comentários

  1. Fala Ricardo,
    Penso que o evangelicalismo brasileiro padece da "síndrome de Simão, o mágico" (estou escrevendo sobre isso, post em breve.. rs) que quis abraçar a fé não por causa da redenção, mas por causa dos milagres e prodígios realizados por meio de Filipe. Da mesma forma que Simão quis "comprar" o poder, muitos têm feito o mesmo submentendo-se à campanhas a fim de receber bênçãos e dons. Enquanto isso, o mercado fica "aquecido" e mais e mais vigaristas abrem suas seitas a fim de manipular os incautos.
    Belo post.
    grande abraço.

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  2. Fala, Jr.

    Valeu pela visita. Estou ansioso por ver seu post sobre as macaquices dos "Simões" que temos por ai.

    Abraço!

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  3. Respostas
    1. Grato, meu irmão. É bom ver o Espírito operando em seu corpo.

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