Alegria na herança


Como um herdeiro da Reforma Protestante tenho muito que agradecer a Deus. Em primeiro lugar, sair do jugo católico trouxe uma nova perspectiva de relacionamento com Deus. Com a doutrina do sacerdócio universal não mais precisamos nos submeter à vontade de um clero que se coloca na posição de indispensável. Com isso, não mais tememos a excomunhão, ainda praticada, tão pouco temos a necessidade de sair de onde estamos para louvar a Deus.

Em segundo lugar, podemos ter verdadeiro conhecimento da vontade de Deus. Com a Bíblia traduzida para o vernáculo, todos podem examiná-la e verificar se o que se prega é bíblico. Antes, o conhecimento era fechado ao povo e aberto somente a uns poucos do alto clero. Documentos secretos, a Bíblia no máximo em Latim e um constante atravanco do desenvolvimento científico legaram ao povo séculos de escuridão, longe da verdade que liberta. Com a Reforma, a pregação da Palavra ganhou seu brilho novamente: Cristo! Aliás, a pessoa de Cristo ganhou seu lugar de merecimento.

Com a idéia de que o Papa é um representante divino, ou melhor, o vigário de Cristo, as atenções se voltaram para essa personagem. Os olhares dos fiéis fixaram-se não para o que o Espírito Santo aponta (Jo 16), mas para um mero homem, pecador, dito inerrante ao falar excatedra. Com a Reforma, ganhou força o Solo Christo, que justamente aponta para o único, incomparável e autosuficiente mediador entre Deus e os homens. Isso enfraqueceu ainda mais o domínio da igreja sobre o fiel. A salvação não está na Igreja, mas é pregada e esperada por essa, a ser completada nele, e somente nele: Cristo! Não há mãe, santo ou Papa que possa interceder pelo crente, somente – e não há ninguém melhor – o Filho de Deus, a encarnação da verdade, da vida e do caminho.

Com isso ficou mais aberto o caminho para que a glória de Deus não fosse ofuscada. Ofuscada pelos santos, pelo Papa, por Maria ou qualquer outra instituição da ICAR que roubava a atenção dos fieis. Com toda a pompa do clero caindo por terra, a glória de Deus volta a ser o foco. A busca não seria mais agradar a vontade da ICAR, mas viver a razão da existência de tudo que existe: glorificar o Criador.

Eu poderia passar horas escrevendo os benefícios da Reforma Protestante. Mas meu desejo com essa pequena demonstração é o de mostrar que muito pouco eu saberia sobre a alegria indizível que Pedro menciona, se o Senhor não tivesse reformado sua igreja. Com conhecimento bíblico e relacionamento mais profundo com a Verdade, posso me dizer um eternamente alegre pela salvação em Cristo.

Infelizmente, a ICAR mudou muito pouco. Não digo em sua prática, já que ela não tem mais aquele poder sobre o estado e a vida das pessoas, mas em sua teologia. Ainda que Roma não demonstre mais aquele comportamento da idade média, suas heresias continuam fortes, ainda dando todo o aparato para que os protestantes ainda tenham contra o que protestar. É claro que, em tempos de tolerância, não estamos mais falando em pegar em armas ou em perseguição religiosa, mas em firmeza e convicção doutrinária.

Mesmo que você se arrepie em ouvir falar de doutrina, sinto muito, mas ela é essencial. Se fosse algo tão insosso ou gélido como muitos querem fazer parecer, Paulo não teria dito insistentemente a Timóteo para que cuidasse dela. De fato, nosso entendimento sobre Deus, as coisas e sobre nós mesmos, se somos cristãos, parte de nossa doutrina. Não falo de academia, ainda que possa estar incluída, mas falo de relacionamento e entendimento de nosso relacionamento com Deus.

Muitos estão, em nome de uma pretensa união, esquecendo-se das diferenças, que são fundamentais, e deixando de lado toda a luta pela verdade. Talvez esses adeptos do “O que nos une é maior do que nos separa” não tenham se apercebido que as diferenças quanto a verdade são mais do essenciais, são cruciais. Manter a verdade e viver por ela é o cerne de nosso relacionamento com Cristo. Não só porque foi justamente isso que perdemos no Éden, mas porque nosso Senhor é a própria verdade. Portanto, não aceitar o engano e desvio da heresia católica e prezar o relacionamento com a verdade, ou seja, com Cristo.

Não sou daqueles que diz: “Sou feliz por ser…”. Sou daqueles que diz: “Sou feliz porque creio em Cristo Jesus do modo como ele se apresentou: como o Filho de Deus, a quem toda a glória foi dada e com ninguém é dividida; como ÚNICO mediador entre Deus e os homens.” SDG

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